sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Poema do amor imperfeito

Desse delírio tenho medo
Desse delírio que ama e sonha
E me espera atrás do beco
E me ataca pelas costas
E se vinga do meu medo

Desse sonho
Dessa viagem
Do nosso amor tenho medo
Quando ele vem sorrateiro
Quando atravessa os bueiros
E me pega de surpresa
E me enterra um dardo no peito

Tenho medo do seu medo
Desse punhal tatuado no seu corpo
Dessa sua coragem de morrer cedo

E mesmo com tudo isso o amor amanhece perfeito?
Nunca, nunca um amor perfeito!
Mas um amor doido, trucidado
Feito de carne e verdade
Feito de estranha voragem
Quase de cinzas composto
Brasas queimaram meu rosto, mas volto livre e amada
Com cicatrizes guardadas

Vou voltando meu amado, ao nosso amor imperfeito
O que poderia neste mundo roubar-me a sua beleza?
Nem as feras, nem os bruxos
Nem os circos enfeitiçados
Nem os meninos mais tristes
Nem o fado inexorável

Nem trapezistas ou mágicos
Nem a morte meu amado
Nem os saltos, nem as quedas
Nem as feridas mais abertas
Nada disso me atormenta

Quero o nosso amor à salvo
Mesmo que sejam vorazes
Os deuses que ousam matá-lo

Quero o nosso amor humano
Mesmo que eu tenha medo
Mesmo que seja frágil o nosso amor de porcelana

Mesmo que seja estranho
Eu me lanço
Delicada como uma borboleta
Furiosa como uma lâmina

E uma coragem danada
Me leva para os teus braços
Um tipo de cegueira
Uma escuridão quase acesa

E uma ventania dos diabos
Vem açoitando meu corpo
Cheio de juventude

E em você eu desagüo
Sangro a romã dos seus lábios
Beijo seu corpo forte, alto, iluminado
E me permito tudo
Absolutamente tudo ao seu lado.

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